Enganam-se aqueles que pensam que
os protestos que tomam conta do Brasil, exigem apenas a redução do preço das passagens de ônibus ou de metrôs,
é muito mais do que isso.
O gigante acordou furioso e nunca
mais será o mesmo! Acordou tarde, infelizmente, perdemos muito tempo de
construir as mudanças e transformações sociais necessárias, para garantir a
distribuição da renda, e da riqueza nacionais.
A sociedade cansou do Jogo Sujo
que permeia a política, a justiça e os governos, genericamente. A sociedade vai
exigir as reformas: política, tributária, financeira, educacional, etc.
A ansiedade do povo é com o péssimo
serviço de transporte público caro e ineficiente, realidade que não mudará com
a redução de preço de tarifas.
A sociedade cansou de ver suas
estradas esburacadas encarecendo o preço do transporte dos alimentos, e, em conseqüência
do próprio alimento para o consumo interno, ou para a exportação.
O dia tem 24 horas, o período
naturalmente reservado ao descanso, para dormir, necessário para preservar a
saúde do trabalhador, é mínimo de 8 horas.
Sobram 16 horas para trabalhar,
estudar, conviver com a família, com a sociedade, e se preparar para garantir
participação efetiva no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e
exigente.
Das 16 horas que sobram, é inadmissível
que o trabalhador gaste 30% delas, ou seja, em torno de 5 horas, para ir e vir
de casa para o trabalho, nas grandes cidades, São Paulo, por exemplo, porque, o
sistema de transporte é decadente, ineficiente, irresponsável e inconseqüente.
As pessoas não vivem, vegetam, morrem um pouco a cada dia, dentro de ônibus e
metrôs lotados.
A sociedade cansou de ver o seu
dinheiro queimado literalmente, no transito parado, em seus automóveis, porque
as cidades não comportam mais, tantos carros em suas vias.
Todos os anos são bilhões de prejuízos
que a sociedade sofre com o combustível queimado sem prestar qualquer serviço,
ao contrario, piorando a qualidade do ar que respiramos. O prejuízo aumenta
ainda mais, quando se contabiliza o tempo perdido todos os dias, nos
congestionamentos, no ir e vir de cada cidadão para o trabalho, numa viagem
interminável.
A sociedade cansou de sofrer passivamente,
o massacre de políticos inescrupulosos, de autoridades incompetentes e
canalhas, verdadeiros ladrões do dinheiro público, que estão no executivo no
legislativo e no judiciário. Salvam-se poucos cidadãos verdadeiramente preocupados
com a sociedade.
A sociedade cansou de ver o
dinheiro público gasto em obras que não acabam nunca, e quando são entregues, acontece
diante de conluios inaceitáveis, e ainda são de péssima qualidade, já precisando
de reformas imediatas.
A sociedade compreendeu que, não
falta competência, pois, para fazer estádios de futebol suntuosos, existe
dinheiro, e as obras acontecem em tempo recorde.
A sociedade cansou da falta de
saúde, de segurança, de lazer, de escolas e de professores preparados para
oferecer aos seus filhos, a formação e informação necessárias, para garantir
espaço no mercado de trabalho globalizado, cada vez mais exigente.
A sociedade cansou de ver energúmenos
travestidos de políticos, tomando conta do seu destino, sem a mínima preocupação
com as conseqüências de suas ações, ou de suas omissões contumazes. Ninguém é
responsável, ninguém é de fato punido.
A sociedade cansou de viver num país
que sobram autoridades, e falta autoridade para decidir, para projetar, para
pensar com segurança e competência, para agir e realizar, proativamente, as obras
importantes que a sociedade deseja, para prestar serviços, para atender as
demandas sociais, crescentes.
A sociedade cansou de pagar a
gorda folha de pagamento dos funcionários públicos, dos juízes e dos políticos,
a cada mês, religiosamente em dia, sem a devida prestação de serviços, como
contrapartida.
A sociedade cansou de pagar caro por
serviços de telefonia e de internet, de baixíssima qualidade, como se fossem serviços
de padrão internacional.
A sociedade cansou de pagar por
serviços ilimitados de banda larga, que não recebe como tal, mas, paga como se
fossem ilimitados, e eficientes.
A sociedade cansou de ver, cada
vez mais, jovens matadores, que matam por nada, para pagar um aluguel, ou pelo
simples prazer de matar, pela adrenalina, dizem alguns, ao arrepio da lei,
diante da leniência bilateral: de políticos, juízes e ministros, deixando
parecer que, não há responsáveis pelos graves acontecimentos. As famílias que
sofram caladas.
A sociedade cansou da falta de
infra-estrutura de portos e aeroportos e de suas estradas, em razão da falta de
investimentos em áreas estratégicas, enquanto o dinheiro público abastece os
porões da corrupção.
A sociedade brasileira cansou de
ser celeiro do mundo, enquanto milhões de brasileiros ainda passam fome e sede.
A sociedade cansou do caos nos
serviços públicos, os termômetros marcam temperatura máxima no inconsciente
coletivo. A sociedade exige serviços públicos padrão Fifa, e o faz, sem violência,
com razão, porque, paga uma das maiores cargas tributárias do mundo, e as maiores
taxas de juros do Planeta.
No Japão, por exemplo, os
transportes públicos são pontuais. São mais caros do que os valores pagos pelos
trabalhadores brasileiros, diretamente. Mas, são pontuais e atingem todos os rincões
das grandes metrópoles, realidade que elimina a necessidade do uso do carro partícula.
Por isso, no geral, torna-se mais
barato o transporte para o trabalhador. Principalmente, porque, no transporte
público de qualidade as pessoas não sofrem, não correm riscos, economizam tempo
precioso para todas as outras atividades que precisa, e pode exercer, ou
executar.
O trabalhador descansado,
respeitado, produz mais e melhor. A economia precisa crescer para empregar e
incluir socialmente. A produtividade é indispensável.
A bola está com os prefeitos,
governadores e com a Presidente do Brasil, precisam juntos, em sintonia, tomar
medidas urgentes, compatíveis com o movimento reivindicatório em andamento.
Não é hora de fazer contas, é
hora de agir, de ceder, de compreender, de dar razão a quem tem razão, de
reduzir o preço das passagens. As contas serão feitas posteriormente, para
encontrar a solução definitiva.
Nos países mais desenvolvidos, a
passagem de ir e vir para o trabalho é dividida, maior parte para os governos e
empresários, e menor parte para os trabalhadores. Aqui, é o contrário, o
trabalhador paga a maior parte.
Há pessoas de todos os segmentos
sociais participando do movimento reivindicatório, amplo, apartidário, e pacífico,
congrega todos os movimentos sociais.
A nova plataforma em construção é
edificada pelas mãos e cabeça de um sujeito novo, de um jovem inteligente, que
precisa de oportunidade para realizar os seus sonhos. Os sonhos de uma nação
iluminada por natureza, que acorda de um pesadelo com absoluto sentimento de
liberdade.
Não somos mais uma massa de manobra,
não somos mais sujeitos passivos de uma história que se constrói em cada dia,
somos todos agentes de mudanças, das mudanças fundamentais, de todas as
mudanças que forem necessárias.
Se as autoridades se os deputados
e senadores não agirem, serão atropelados pelos acontecimentos, pelos fatos
reais, certamente.
A Polícia precisa ser profissional,
precisa ser paciente, precisa de sabedoria, porque, senão, poderá impedir que o
país se transforme, que ela própria também se transforme, precisa compreender
que é parte, também, dessa mesma sociedade, que acordou.
O movimento não pode sobrepor às
forças policiais, nem as forças policiais podem impedir o movimento, é
fundamental agora, que haja o equilíbrio, para não permitir o caos, nem que o
movimento descambe para a violência generalizada.
É preciso que a Polícia compreenda
e seja paciente, use a sabedoria ao invés da truculência, porque, somos forças
de um mesmo organismo social, que precisa interagir em simbiose de pensamento,
do pensamento de construir, de se aperfeiçoar enquanto organização social. É
preciso que a sapiência prevaleça diante dos arroubos de alguns jovens, que podem
exceder em seus comportamentos reivindicatórios, porque, é tudo muito novo para
eles. É parte de um aprendizado que só valoriza a Nação.
Os políticos estão perdidos, atônitos,
sem ação, diante da possibilidade da maior renovação que a sociedade pode
patrocinar, do ponto de vista político, a partir do movimento social que toma
conta das cidades brasileiras.
Não é um movimento novo, mas, um
movimento que vem crescendo e ganhando significado político, social e
econômico.
A história mostra que os
movimentos sociais têm limites. Precisam ser organizados enquanto acontecem,
para não se perderem, para não serem esvaziados antes de cumprirem os seus
propósitos, os seus objetivos. Por isso, todos são responsáveis, autoridades ou
não, pelo desfecho do movimento abrangente, pacífico, mas, de grande
importância, cujo desfecho positivo, deve ser o objetivo principal. A ninguém
interessa o desvirtuamento.
A Polícia Brasileira é, em média,
bem treinada. Entretanto, em sua preparação, e não pode ser diferente, se
prepara para ser violenta quando a realidade exige. Por isso, não há de se
culpar as polícias nem os policiais, exceto em casos específicos. Porque, quem
manda na polícia são os políticos. São eles que decidem, são eles que devem
decidir, no regime democrático. Por isso, não podem se omitir, nem deixar de
enxergar a realidade como ela de fato se apresenta.
Portanto, os senhores políticos,
as autoridades civis e militares, precisam entrar em sintonia fina com a nova
realidade, que permeia o convívio da nova sociedade que se constrói a cada novo
dia, porque o momento é de ação, é de prestar atenção, é de compreensão, não é de
violência, porque, não será a violência nenhuma solução.
É hora de um comando efetivo, é
hora das verdadeiras autoridades ocuparem o seu espaço, porque, de autoridades
sérias o País está carente. A sociedade saberá reconhecê-las no burburinho, no âmbito
dos acontecimentos, com certeza, e interagirá com elas, de modo saudável, inteligente,
competente e produtivo.
No ano que vem teremos eleições,
quem sobressair neste momento, terá o seu objetivo político alcançado, com
certeza, porque a sociedade está atenta aos seus grandes quadros.
Brasília – DF, 19 de março de 2013.
No comments:
Post a Comment