Wednesday, June 19, 2013

QUEIMANDO DINHEIRO


Enganam-se aqueles que pensam que os protestos que tomam conta do Brasil, exigem apenas a redução do preço das passagens de ônibus ou de metrôs, é muito mais do que isso.

O gigante acordou furioso e nunca mais será o mesmo! Acordou tarde, infelizmente, perdemos muito tempo de construir as mudanças e transformações sociais necessárias, para garantir a distribuição da renda, e da riqueza nacionais. 

A sociedade cansou do Jogo Sujo que permeia a política, a justiça e os governos, genericamente. A sociedade vai exigir as reformas: política, tributária, financeira, educacional, etc.

A ansiedade do povo é com o péssimo serviço de transporte público caro e ineficiente, realidade que não mudará com a redução de preço de tarifas.

A sociedade cansou de ver suas estradas esburacadas encarecendo o preço do transporte dos alimentos, e, em conseqüência do próprio alimento para o consumo interno, ou para a exportação.

O dia tem 24 horas, o período naturalmente reservado ao descanso, para dormir, necessário para preservar a saúde do trabalhador, é mínimo de 8 horas.

Sobram 16 horas para trabalhar, estudar, conviver com a família, com a sociedade, e se preparar para garantir participação efetiva no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e exigente.

Das 16 horas que sobram, é inadmissível que o trabalhador gaste 30% delas, ou seja, em torno de 5 horas, para ir e vir de casa para o trabalho, nas grandes cidades, São Paulo, por exemplo, porque, o sistema de transporte é decadente, ineficiente, irresponsável e inconseqüente. As pessoas não vivem, vegetam, morrem um pouco a cada dia, dentro de ônibus e metrôs lotados.

A sociedade cansou de ver o seu dinheiro queimado literalmente, no transito parado, em seus automóveis, porque as cidades não comportam mais, tantos carros em suas vias.

Todos os anos são bilhões de prejuízos que a sociedade sofre com o combustível queimado sem prestar qualquer serviço, ao contrario, piorando a qualidade do ar que respiramos. O prejuízo aumenta ainda mais, quando se contabiliza o tempo perdido todos os dias, nos congestionamentos, no ir e vir de cada cidadão para o trabalho, numa viagem interminável.

A sociedade cansou de sofrer passivamente, o massacre de políticos inescrupulosos, de autoridades incompetentes e canalhas, verdadeiros ladrões do dinheiro público, que estão no executivo no legislativo e no judiciário. Salvam-se poucos cidadãos verdadeiramente preocupados com a sociedade.

A sociedade cansou de ver o dinheiro público gasto em obras que não acabam nunca, e quando são entregues, acontece diante de conluios inaceitáveis, e ainda são de péssima qualidade, já precisando de reformas imediatas.

A sociedade compreendeu que, não falta competência, pois, para fazer estádios de futebol suntuosos, existe dinheiro, e as obras acontecem em tempo recorde.

A sociedade cansou da falta de saúde, de segurança, de lazer, de escolas e de professores preparados para oferecer aos seus filhos, a formação e informação necessárias, para garantir espaço no mercado de trabalho globalizado, cada vez mais exigente.

A sociedade cansou de ver energúmenos travestidos de políticos, tomando conta do seu destino, sem a mínima preocupação com as conseqüências de suas ações, ou de suas omissões contumazes. Ninguém é responsável, ninguém é de fato punido.

A sociedade cansou de viver num país que sobram autoridades, e falta autoridade para decidir, para projetar, para pensar com segurança e competência, para agir e realizar, proativamente, as obras importantes que a sociedade deseja, para prestar serviços, para atender as demandas sociais, crescentes.

A sociedade cansou de pagar a gorda folha de pagamento dos funcionários públicos, dos juízes e dos políticos, a cada mês, religiosamente em dia, sem a devida prestação de serviços, como contrapartida.

A sociedade cansou de pagar caro por serviços de telefonia e de internet, de baixíssima qualidade, como se fossem serviços de padrão internacional.

A sociedade cansou de pagar por serviços ilimitados de banda larga, que não recebe como tal, mas, paga como se fossem ilimitados, e eficientes.

A sociedade cansou de ver, cada vez mais, jovens matadores, que matam por nada, para pagar um aluguel, ou pelo simples prazer de matar, pela adrenalina, dizem alguns, ao arrepio da lei, diante da leniência bilateral: de políticos, juízes e ministros, deixando parecer que, não há responsáveis pelos graves acontecimentos. As famílias que sofram caladas.

A sociedade cansou da falta de infra-estrutura de portos e aeroportos e de suas estradas, em razão da falta de investimentos em áreas estratégicas, enquanto o dinheiro público abastece os porões da corrupção.

A sociedade brasileira cansou de ser celeiro do mundo, enquanto milhões de brasileiros ainda passam fome e sede.

A sociedade cansou do caos nos serviços públicos, os termômetros marcam temperatura máxima no inconsciente coletivo. A sociedade exige serviços públicos padrão Fifa, e o faz, sem violência, com razão, porque, paga uma das maiores cargas tributárias do mundo, e as maiores taxas de juros do Planeta.

No Japão, por exemplo, os transportes públicos são pontuais. São mais caros do que os valores pagos pelos trabalhadores brasileiros, diretamente. Mas, são pontuais e atingem todos os rincões das grandes metrópoles, realidade que elimina a necessidade do uso do carro partícula.

Por isso, no geral, torna-se mais barato o transporte para o trabalhador. Principalmente, porque, no transporte público de qualidade as pessoas não sofrem, não correm riscos, economizam tempo precioso para todas as outras atividades que precisa, e pode exercer, ou executar.

O trabalhador descansado, respeitado, produz mais e melhor. A economia precisa crescer para empregar e incluir socialmente. A produtividade é indispensável.

A bola está com os prefeitos, governadores e com a Presidente do Brasil, precisam juntos, em sintonia, tomar medidas urgentes, compatíveis com o movimento reivindicatório em andamento.

Não é hora de fazer contas, é hora de agir, de ceder, de compreender, de dar razão a quem tem razão, de reduzir o preço das passagens. As contas serão feitas posteriormente, para encontrar a solução definitiva.

Nos países mais desenvolvidos, a passagem de ir e vir para o trabalho é dividida, maior parte para os governos e empresários, e menor parte para os trabalhadores. Aqui, é o contrário, o trabalhador paga a maior parte.

Há pessoas de todos os segmentos sociais participando do movimento reivindicatório, amplo, apartidário, e pacífico, congrega todos os movimentos sociais.

A nova plataforma em construção é edificada pelas mãos e cabeça de um sujeito novo, de um jovem inteligente, que precisa de oportunidade para realizar os seus sonhos. Os sonhos de uma nação iluminada por natureza, que acorda de um pesadelo com absoluto sentimento de liberdade.

Não somos mais uma massa de manobra, não somos mais sujeitos passivos de uma história que se constrói em cada dia, somos todos agentes de mudanças, das mudanças fundamentais, de todas as mudanças que forem necessárias.

Se as autoridades se os deputados e senadores não agirem, serão atropelados pelos acontecimentos, pelos fatos reais, certamente.

A Polícia precisa ser profissional, precisa ser paciente, precisa de sabedoria, porque, senão, poderá impedir que o país se transforme, que ela própria também se transforme, precisa compreender que é parte, também, dessa mesma sociedade, que acordou.

O movimento não pode sobrepor às forças policiais, nem as forças policiais podem impedir o movimento, é fundamental agora, que haja o equilíbrio, para não permitir o caos, nem que o movimento descambe para a violência generalizada.

É preciso que a Polícia compreenda e seja paciente, use a sabedoria ao invés da truculência, porque, somos forças de um mesmo organismo social, que precisa interagir em simbiose de pensamento, do pensamento de construir, de se aperfeiçoar enquanto organização social. É preciso que a sapiência prevaleça diante dos arroubos de alguns jovens, que podem exceder em seus comportamentos reivindicatórios, porque, é tudo muito novo para eles. É parte de um aprendizado que só valoriza a Nação.

Os políticos estão perdidos, atônitos, sem ação, diante da possibilidade da maior renovação que a sociedade pode patrocinar, do ponto de vista político, a partir do movimento social que toma conta das cidades brasileiras.

Não é um movimento novo, mas, um movimento que vem crescendo e ganhando significado político, social e econômico.

A história mostra que os movimentos sociais têm limites. Precisam ser organizados enquanto acontecem, para não se perderem, para não serem esvaziados antes de cumprirem os seus propósitos, os seus objetivos. Por isso, todos são responsáveis, autoridades ou não, pelo desfecho do movimento abrangente, pacífico, mas, de grande importância, cujo desfecho positivo, deve ser o objetivo principal. A ninguém interessa o desvirtuamento.

A Polícia Brasileira é, em média, bem treinada. Entretanto, em sua preparação, e não pode ser diferente, se prepara para ser violenta quando a realidade exige. Por isso, não há de se culpar as polícias nem os policiais, exceto em casos específicos. Porque, quem manda na polícia são os políticos. São eles que decidem, são eles que devem decidir, no regime democrático. Por isso, não podem se omitir, nem deixar de enxergar a realidade como ela de fato se apresenta.

Portanto, os senhores políticos, as autoridades civis e militares, precisam entrar em sintonia fina com a nova realidade, que permeia o convívio da nova sociedade que se constrói a cada novo dia, porque o momento é de ação, é de prestar atenção, é de compreensão, não é de violência, porque, não será a violência nenhuma solução.

É hora de um comando efetivo, é hora das verdadeiras autoridades ocuparem o seu espaço, porque, de autoridades sérias o País está carente. A sociedade saberá reconhecê-las no burburinho, no âmbito dos acontecimentos, com certeza, e interagirá com elas, de modo saudável, inteligente, competente e produtivo. 

No ano que vem teremos eleições, quem sobressair neste momento, terá o seu objetivo político alcançado, com certeza, porque a sociedade está atenta aos seus grandes quadros.


Brasília – DF, 19 de março de 2013.

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