HEITOR DE ANDRADE, UM POETA EPICURISTA
Ha poucos meses de completar setenta anos de idade, o poeta Heitor Humberto de Andrade se sente renascido. Amante de vinhos, mulheres, poesia e da natureza, nutre-se do que a vida bem vivida lhe deu de bom e quer dividir isso com seus companheiros de jornada, todos os artistas e não artistas que compartilham seu fazer poético. Baiano de Salvador, criado em Vitória da Conquista, duma estirpe familiar que inclui artistas visionários e geniais como Glauber Rocha, de quem é primo, Heitor de Andrade se sente um menino pronto pra redescobrir todos os caminhos e descaminhos que trilhou e viveu. Seus livros publicados são quatro. O primeiro lançado em 1964, pela Imprensa Oficial da Bahia, pouco antes do golpe militar, teve toda a edição queimada por ser considerado subversivo; quinhentos exemplares foram salvo e é raridade e chama-se Corpos de Concreto. O segundo, Sigla Viva, lançado em 1969, editado no Rio de Janeiro, também com edição queimada (o dono da gráfica, um coronel do exército, não se identificou com a poética do livro…). O terceiro livro foi o 3x1, A Matemática do Poema, editado pelo Senado Federal, na coleção Machado de Assis, de 1978, foi execrado pelos que o consideraram cúmplice da ditadura, sendo boicotado pela esquerda de então. O último livro, Nas Grades do Tempo, lançado pela editora André Quicé, do também escritor e amigo Alan Viggiano, foi editado em 1993. Os que conhecemos Heitor Andrade, admiramos sua vigorosa poética, seu entusiasmo e paixão pelo prazer de gozar a aventura de ir fundo em tudo o que faz, polêmico, irreverente, provocador, sem papas na língua. Melhor do que falar dele é mostrar sua poesia, feita com o orgiástico deleite de cantar a vida, os prazeres, amores e gozos, afirmando sua convicção pela paixão de tudo fazer sem outro compromisso que não seja criar. (Zeferino Alves Neto)
V I V O
Ha poucos meses de completar setenta anos de idade, o poeta Heitor Humberto de Andrade se sente renascido. Amante de vinhos, mulheres, poesia e da natureza, nutre-se do que a vida bem vivida lhe deu de bom e quer dividir isso com seus companheiros de jornada, todos os artistas e não artistas que compartilham seu fazer poético. Baiano de Salvador, criado em Vitória da Conquista, duma estirpe familiar que inclui artistas visionários e geniais como Glauber Rocha, de quem é primo, Heitor de Andrade se sente um menino pronto pra redescobrir todos os caminhos e descaminhos que trilhou e viveu. Seus livros publicados são quatro. O primeiro lançado em 1964, pela Imprensa Oficial da Bahia, pouco antes do golpe militar, teve toda a edição queimada por ser considerado subversivo; quinhentos exemplares foram salvo e é raridade e chama-se Corpos de Concreto. O segundo, Sigla Viva, lançado em 1969, editado no Rio de Janeiro, também com edição queimada (o dono da gráfica, um coronel do exército, não se identificou com a poética do livro…). O terceiro livro foi o 3x1, A Matemática do Poema, editado pelo Senado Federal, na coleção Machado de Assis, de 1978, foi execrado pelos que o consideraram cúmplice da ditadura, sendo boicotado pela esquerda de então. O último livro, Nas Grades do Tempo, lançado pela editora André Quicé, do também escritor e amigo Alan Viggiano, foi editado em 1993. Os que conhecemos Heitor Andrade, admiramos sua vigorosa poética, seu entusiasmo e paixão pelo prazer de gozar a aventura de ir fundo em tudo o que faz, polêmico, irreverente, provocador, sem papas na língua. Melhor do que falar dele é mostrar sua poesia, feita com o orgiástico deleite de cantar a vida, os prazeres, amores e gozos, afirmando sua convicção pela paixão de tudo fazer sem outro compromisso que não seja criar. (Zeferino Alves Neto)
V I V O
Em pleno século XXI
Quando eu morrer
Quero meu corpo
Plantado
Na cova
Onde ele possa
Se doar
Integralmente
Como nutriente
Das plantas
Como não me
Foi dado
O direito em vida
De ser
Plenamente
Humano
Possa pelo menos
Ser vivo
Entre os mortos
A MORTE CANALHA DO ITAPECURU
A lâmina do Rio
Está secando
E as árvores em cinza
Se tornaram
A terra ressecada
Mata a fauna
Que ao longo do caminho
Se achava
Observando uma só imagem:
A imagem do fogo
Que a sua cobiça
FORNALHA
S I G L A V I V A
Nasceram os homens
Atrás das siglas
Gritando viva
Viva
A sigla
Viva
Morreram homens
Atrás das siglas
Gritando viva
A lâmina do Rio
Está secando
E as árvores em cinza
Se tornaram
A terra ressecada
Mata a fauna
Que ao longo do caminho
Se achava
Observando uma só imagem:
A imagem do fogo
Que a sua cobiça
FORNALHA
S I G L A V I V A
Nasceram os homens
Atrás das siglas
Gritando viva
Viva
A sigla
Viva
Morreram homens
Atrás das siglas
Gritando viva
V E L H A Q U E S T ÃO
Não adianta
Procurar
O amor
Fora de si
As imagens
Que se vêem
E se falam
São pedaços do ser
Violentados
Por elas
O amor
Se dá
Dando-se
Ela apenas
Corteja
A companhia
Não adianta
Procurar
O amor
Fora de si
As imagens
Que se vêem
E se falam
São pedaços do ser
Violentados
Por elas
O amor
Se dá
Dando-se
Ela apenas
Corteja
A companhia
C O N S I S T Ê N C I A
A Rubem Valentim
Meu lirismo está repleto
De amor
Meu amor consiste em ser fiel
Às variações do mundo
Cada dia ergo uma nova ética
Ao momento maior do meu coração
Meu cérebro é uma usina ardente
Intransigente com leis
Legislando o bloqueio dos homens
Meu código é o poema diário
Que escrevo com eles
Sejam eles quem for
Meu poema é um poema vigoroso
Porque está farto De formas esquálidas
A Rubem Valentim
Meu lirismo está repleto
De amor
Meu amor consiste em ser fiel
Às variações do mundo
Cada dia ergo uma nova ética
Ao momento maior do meu coração
Meu cérebro é uma usina ardente
Intransigente com leis
Legislando o bloqueio dos homens
Meu código é o poema diário
Que escrevo com eles
Sejam eles quem for
Meu poema é um poema vigoroso
Porque está farto De formas esquálidas