Wednesday, December 06, 2006

O TURISMO E AS FERROVIAS PODEM SALVAR O BRASIL

Durante o primeiro mandato do presidente Lula, agora reeleito, falou-se muito no espetáculo do crescimento econômico do País, cujo objetivo máximo é minimizar o desemprego crônico. Dezembro de 2006, último mês do seu primeiro mandato, as estatísticas mostram que o crescimento foi pífio, e o espetáculo não aconteceu.

Por que o Brasil não cresceu? Qual foi a principal falha do projeto Lula de governar, se a indústria que mais cresce no mundo é a do turismo, e o Brasil continental tem inigualáveis atrações naturais, e mesmo assim o turismo não cresceu aqui?

Os Estados Unidos planejaram o seu desenvolvimento econômico e a sua integração a partir das grandes ferrovias, que cortam o País. Perceberam logo cedo que elas podem transportar mercadorias e pessoas, de modo eficiente e barato. No Brasil, por absoluta falta de planejamento, de visão de longo prazo, priorizou-se as rodovias, porque assim vendem-se mais carros, e “esquecemos” de modernizar as ferrovias! Além disso, as estradas que cruzam o País foram mal construídas, e são pessimamente conservadas. Razão do grande número de acidentes, que matam ou mutilam milhares de brasileiros o tempo todo, como até se vivêssemos uma grande guerra, sem fim, todos os dias.

Para completar o caos, vivemos a ressaca do pior acidente aéreo da nossa história. Fruto do mesmo descaso, a falta de planejamento e de investimento no transporte, na aviação, inclusive para a substituição eventual necessária para a reciclagem dos controladores de vôos, em atuação.

A resposta é exatamente essa, a falta de investimentos no transporte é a causa do atraso, da estagnação da nossa economia, com as suas lamentáveis conseqüências. A falta de investimentos nas estradas causa ainda outro tipo de problema. A baixa velocidade nos pontos estratégicos, por conta dos buracos, é prato cheio para os assaltantes de cargas, que matam os motoristas, para conseguir os seus intentos.

O pior pecado da autoridade é a omissão, e o pior cego é o que não quer ver. É preciso enxergar no turismo o “espetáculo do crescimento”, porque o mundo inteiro, inclusive os próprios brasileiros, precisam mesmo conhecer este belo País.

Presidente Lula, o senhor tem nas suas mãos a rara oportunidade de transformar-se num dos mais importantes políticos da Nação, mas precisa prestar atenção ao turismo como a grande alavanca para o progresso.

Como resolver o gigantesco problema dos transportes, se os especialistas dizem que não há dinheiro suficiente? O transporte ferroviário alimenta o turismo regional, e gera emprego e renda, porque facilita a circulação das pessoas e das mercadorias, a custo reduzido. A segurança das ferrovias, em si mesma, anima as pessoas a viajar, e a conhecer o País que temos a nossa disposição.

As viagens possibilitam as oportunidades de negócios, e proporcionam o intercâmbio cultural, social e político. Todo esse possível movimento garante o círculo virtuoso de qualquer economia. Mas onde está o dinheiro para fazer tudo isso?

Confúcio afirmou: “A essência do conhecimento é: em se o tendo, usar-se-o.” O conhecimento que não é praticado em benefício da população, é como se não existisse.

Do que são feitas, e como são feitas as rodovias e as ferrovias? De ferro, cimento e pedra britada, do resíduo de petróleo etc., insumos que temos de sobra, do movimento de mãos e de máquinas. Somos um País privilegiado porque temos praticamente todos os recursos.

Como reunir tudo isso e construir a infra-estrutura que precisamos para o crescimento da economia brasileira, e para motivar o nosso povo? É verdade, é preciso dinheiro! Mas o que é o dinheiro? O dinheiro é um vale sobre o ativo social, e representa um direito respaldado pelos serviços prestados ao indivíduo, ou à sociedade.

Deixa o povo trabalhar! O cidadão quer trabalhar para ter crédito. Os bancos compram o crédito. O Estado avaliza, garante o resgate desses créditos diante do sistema. Assim, o investimento acontece. O investimento é o indutor e o multiplicador de bens e serviços. O crédito alimenta o consumo, e o consumo possibilita o fechamento do circuito que possibilita novo círculo da economia, o virtuoso. O trabalho cria a moeda.

Antes de o dinheiro desenvolver, presidente Lula, e chegar a sua forma mais desmaterializada, como o conhecemos hoje, sem valor intrínseco, sustentado no império da lei e da crença popular, antes de ele existir em abundância, o povo se movimentava, as coisas aconteciam.

Lembra das pirâmides do Egito? O paradoxo é não vermos o necessário movimento da economia diante do dinheiro, da sua fonte de arrecadação, e da possibilidade da sua emissão racional inesgotável, suficiente para proporcionar a geração de emprego e de renda, da satisfação e da integração social, econômica e política do povo. O verdadeiro dono do dinheiro é o Estado, o único que pode fabricá-lo e emiti-lo.

O povo tem o direito e o dever de promover a sua circulação, e está disponível para fazer a sua parte. O dinheiro é o sangue da economia, mas só cumprirá bem o seu papel quando circular o suficiente em todos os rincões, e sem nenhuma discriminação.

Presidente Lula, compreender o dinheiro e a sua essência é condição sine qua non para garantir o seu segundo mandato brilhante, aquele que pode proporcionar ao senhor um lugar de destaque na história nacional e internacional. Vai aqui uma idéia simples: reduza 10 ou 15% na carga tributária, e reserve-se o direito de emitir, se necessário, na mesma proporção. A outra âncora a segurar o nosso desenvolvimento é o juro...

Combatamos a corrupção. Sabemos que a visão do dinheiro pela pessoa física ou jurídica de direito privado deve ser objetiva, contábil. Já a visão do dinheiro por parte do Estado precisa ser subjetiva e flexível, e deve ser responsável.

O Banco Central precisa mudar a sua visão acerca do fantástico poder do dinheiro como instrumento poderoso de indução da economia, pois ela é vida, é emoção, é motivação.

É preciso mudar o modelo econômico vigente no País para compreender que não faltam recursos. Falta planejamento e ação proativa. Não podemos continuar vivendo ao reboque dos acontecimentos. É preciso que criemos os fatos. É necessário provocar o movimento de transformação. É preciso trabalhar, e trabalhar bem, em sintonia com o desejo mais profundo do povo.

O turismo praticamente já é o maior negócio do Planeta em termos de PIB. O Brasil, com todo o seu potencial, caminha sobre o casco de uma tartaruga gigante, e cansada, neste seguimento. O turismo pode integrar a agricultura, a pecuária e o meio ambiente, de forma sustentável. É uma questão de prioridade.

O turismo traz divisas enquanto preserva a fauna e a flora, as belezas naturais. Já a expansão das fronteiras agropecuárias gera recursos destruindo. O turismo precisa desenvolver, porque é também remédio necessário para diminuir o efeito da depressão, essa que assola a população mundial, contaminada pelo ritmo frenético da vida atual.

É preciso parar, pensar, reduzir a velocidade, promover o equilíbrio do homem com o meio ambiente. O turismo é o caminho a seguir, pois sua visão aperfeiçoa o processo da produção alimentar, indo além do corpo, alimentando a alma.

Presidente Lula, esta é a sua oportunidade de ouro, de realizar, de fazer da nossa Pátria o grande País que todos sonhamos!
Eustáquio Costa/economista
jeccosta@gmail.com